21 de fev. de 2011

Sobre a Alemanha e o relacionamento entre pessoas...

Fim de semestre, as provas acabaram e eu, to "de férias" até Abril. Uma maravilha!

Hoje eu to passando aqui pra fazer uma reflexao sobre, como o título diz, a Alemanha e amizades, ou melhor, o relacionamento entre pessoas.

Acho que no mundo todo todos tem uma visao dos alemaes como pessoas frias, duras, objetivas e talvez até um pouco rudes demais. Eu já recebi aqui em casa vários amigos que vieram do Brasil passear, tios, tias, primos, pai... E nao teve uma pessoa que nao tenha me dito que se surpreenderam positivamente com os alemaes e sua personalidade. "Mas eles sao tao simpáticos, né?!" foi uma frase que eu sempre ouvi de turistas que esperavam encontrar alemaes grosseiros por tudo quanto é parte.

Eu tenho que dizer, que eu admiro muito o povo alemao. Sao pessoas que carregam nas costas há geracoes um passado nada alegre, um sentimento de culpa pela história que tiveram e o que acho mais incrível ainda, é ver como o país se reconstruiu depois de tanta destruicao em um período bastante curto de tempo. Esses fatos históricos acho que sao indispensáveis pra se entender o movo de ver a vida de um povo.

Eu acho a pontualidade aqui uma coisa fantástica, os alemaes sao ótimos anfitrioes, se dedicam bastante no que fazem, adoram se movimentar, passear na natureza, sao muito sinceros e enfim... Eu teria muitas coisas positivas a dizer sobre eles....

MAS....! Nao foi por causa disso que eu comecei esse post. Eu quero falar sobre uma coisa que eu reflito ao longo desses 4 anos e ainda nao cheguei a uma conclusao...

O primeiro contato que eu tive com "amizade" na Alemanha foi com a irma do meu pai anfitriao que era só 3 anos mais velha do que eu e estava morando na casa onde eu morava assim que cheguei na Alemanha. A Kati era uma pessoa muito bacana, conversávamos horrores, saíamos juntas e eu dava altas dicas pra ela, que era uma pessoa que a família controlava cada passo, porque ela já tinha feitos algumas várias besteiras na vida. A Kati se mudou depois de 1 mes pra Munique e eu, nunca mais tive notícias dela...

Depois os meus pais anfitrioes ficavam insistindo pra eu ir na Igreja deles, porque lá tinha muitos jovens e eles achavam importante eu conhecer alemaes, e nao só ficar saindo com brasileiros. Eu também achava.... Só que se tem uma coisa que eu acho terrível é ficar forcando um contato que nao tem nada a ver. Eu cheguei a ir pro cinema com "amigos" da Igreja deles, fui convidada pra festas de aniversário, as pessoas eram super simpáticas e tinham interesse em saber coisas sobre a minha cultura... Mas era uma coisa forcada demais, na minha opiniao. Sabe aquela sensacao que se nao fosse pelo empurrao de determinadas pessoas, voce nunca faria alguma coisa com essas pessoas?!

Aí depois eu me rendi aos meus amigos brasileiros, que compartilhavam o mesmo modo de ver a vida que eu, o mesmo interesse em viajar pela europa com 260 € no mes, que reclamavam do trabalho de AuPair assim como eu, que estavam dispostas a dormirem uma na casa da outra espontaneamente, só pra "se livrar" um pouco da rotina de AuPair, enfim.... Mas ainda assim eu me perguntava em algumas situacoes: "será que se eu tivesse no Brasil e conhecesse essas pessoas, eu seria amiga delas?".

Aí chegou a hora de trabalhar de verdade e de ir pra faculdade. Eu pensei: "nossa, vou conhecer muita gente!" E conheci.... Mas nao com a ingenuidade que eu tinha, de fazer vááários amigos.

Eu tenho a sorte de estudar uma coisa na qual as pessoas sao super abertas, amam novas culturas, sao cosmopolitas. Mas parece que ainda assim isso nao é suficiente.

Na Alemanha as pessoas antes de te darem a chance de te acharem simpáticas, elas tem que saber a sua biografia de vida. Como voce se chama, quantos irmaos voce tem, de onde voce é, quantos habitantes tem a sua cidade, há quanto tempo voce tá na Alemanha, o que voce faz da vida, quantos anos voce tem, porque voce quis vir pra Alemanha, como sao as temperaturas na sua cidade, onde voce mora agora, o tamanho do seu apartamento, o valor do aluguel, se o valor é quente (com gastos extras inclusos, como gás, água, etc) ou frio…. E isso só nos primeiros 10 minutos de conversa. E o que é mais interessante, é que voce responde tudo, tem uma conversa até que agradável e no dia seguinte, ve essa pessoa de novo e ela diz „oi…“ e morreu. Aí voce se pergunta „gente, é ilusao da minha cabeca ou eu realmente bati ontem altos papos com essa pessoa? Porque ela nao fala direito comigo?!“ Bem-vindo! Voce está no universo de como fazer amigos na Alemanha!

Há algumas semanas atrás as meninas do meu curso comecaram a marcar umas programacoes pra se encontarem mais vezes. Afinal, estamos há quase 3 anos estudando juntas. Vejam que agradável…. Depois da aula estou eu, uma amiga russa e a alema X esperando as outras meninas pra irmos, como de praxe, na cantina comermos juntas. A alema X convida na minha frente a russa pra ir no dia seguinte jantar na casa dela. Depois chegam as outras meninas e se juntam ao grupo. A alema X convida também a alema Y e a alema Z pra irem a sua casa. E eu, só prestando atencao na situacao descarada de ela convidar todo mundo na minha frente, mas nao me convidar. Até que quando a gente ia se despedir, ela veio com o papo “ah, Karla, se tiveres com vontade, vem também!”. Anhan, ok…. Vou pensar no caso…

Dias depois o mesmo grupo de meninas se encontram no cinema e eu escuto a mesma alema X dizendo: “Alema Y, alema Z e russa, nao se esquecam de quinta-feira”. Daí eu pergunto “quinta-feira o que?”. “Ah, nós vamos sair”, responde ela e morre o papo. Até que a outra alema me diz “Karla nós vamos sair na quinta pro lugar tal, vamos com a gente?”. Anhan, ok…. Vou pensar no caso… [2]. Horas depois voce chega em casa e ve que a alema X mandou pelo Facebook o convite da festa pra todas elas, menos pra voce. E voce se pergunta se está realmente sendo sacaneada na cara pela menina, ou se os alemaes sao assim mesmo, nao fazem por mal…

Aí depois de voce viver a situacao descrita acima diversas vezes, voce comeca a achar super, super estranho quando um alemao comeca a mostrar interesse em ser o seu amigo por diversos dias, comeca a te ligar… Eu posso dizer que a Alemanha, me vez de uma certa forma, uma pessoa anti-social. Quando alguém comeca a me ligar pra querer bater papo ou me convida pra fazer isso e aquilo, eu comeco a fugir literalmente dessas pessoas, porque fico achando que ela nao quer ser minha amiga, mas sim, quer algo de mim. É triste, mas é verdade….

Mas eu tento ver o lado bom da coisa… Aqui na Alemanha as pessoas tem pouquíssimos amigos, mas esses amigos sao realmente pra vida toda. Sao pessoas que fazem tudo por voce, te ajudam a reformar o seu apartamento novo, te ajudam na mudanca, atravessam a Alemanha inteira pra ir ao seu aniversário. Enfim, aqui qualidade é importante e nao quantidade.

E é por isso que eu sou muito grata de ter minhas amigas brasileiras maravilhosas por aqui, minha amiga italiana, a russa, a ecuadoriana, a tcheca, porque eu acredito, que de uma forma ou de outra, todas nós compartilhamos os mesmos pensamentos em relacao a fazer amizades por aqui. Ah! E também nao posso deixar de lado a minha amiga alema que eu adoro, que ama o Brasil, aprende portugues, mas só por essa descricao já dá pra ver o porque que a gente se entendo tao bem! Do mais… que saudade gigantesca da minha amiga e alma-gemea Ló, que tá no Brasil e que me faz tanta, tanta falta!

E como eu sou brasileira e nao desisto nunca, as meninas da faculdade estao vindo aqui em casa na quinta-feira pra experimentar comida brasileira. To só esperando pra ver no que vai dar…

5 comentários:

Deby-abelha disse...

Me encaixei tão bem nesse post, vc nem imagina.
Mesmo depois de três anos na Suécia não tenho aquela amizade que tenho com as amigas brasileiras. Acho que é outro clima... Apesar dos suecos serem gente fina nós definitivamente não temos a mesma visão da vida. Acho que isso é uma questão cultural, não??
Não é fácil entrar numa sociedade tão fechada e cheia de regras. Como vc mesmo citou acima eles podem até ser amigos pra vida inteira e são mesmo! Mas leva um tempo até chegar a esse nível.

Bom, eu ainda estou em busca de amigos verdadeiros aqui e confesso que não tem sido nada fácil!!!

Beijos

Katia Bonfadini disse...

Muito legal seu texto, Karla!!!! Eu adoro essas informações culturais, sou curiosíssima pra saber como é a vida fora do Brasil, em qualquer parte do mundo. No final de semana conversei com uma amiga que hoje vive no Canadá, mas que já morou 2 anos na Suécia. Metralhei a menina de perguntas, rsrsrsrs!!!! Acho que a Suécia tem uma cultura tão, tão diferente da nossa! Mas a experiência foi bastante válida pra ela, que fez amigos que adora. Só que prefere o Canadá. Karla, confesso que minha experiência na Alemanha não me deixou com uma visão muito simpática do povo, mas conheci também um amigo alemão do Marcelo que era a simpatia em pessoa! Talvez por ter morado na Bolívia, México, Austrália, Nova Zelândia, Itália etc., era um cara bem legal e extrovertido! O Marcelo o conheceu há mais de 15 anos e foi reencontrá-lo ano passado. O que mais ouço falar dos europeus em geral é que são muito mais sinceros, francos e diretos que os brasileiros, que não sabem dizer "não" e preferem inventar sempre desculpas. Você também tem essa impressão?

Um beijo enorme, realmente amei o texto!!!!

S. W disse...

Karlinha eu vou te contar uma coisa... não é fácil, nós com o nosso modo sociavél aprender a lidar com essa diferença.

Eu tive alguns problemas com brasileiros aqui na Holanda, questão de fofoca, mentira, disse me disse, que acabei de afastando de todo mundo uma época. Fiz algumas amizades no curso de ingles com algumas holandesas, e elas eram bem legais, fora isso tenho alguns amigos de ir "em show" algumas vezes, mas eu sinto examente isso que você falou, algumas vezes eles convidam todos, eu vejo e ninguém me chama, ouvi de um amigo holandes uma vez, que é porque eu não saio sempre com eles, então eles não sabem quando devem me chamar. Horas eu não tinha (continuo não tenho dinheiro pra sair sempre ou disponibilidade já que era au pair e trabalhava em muitos fins de semana), já tentei me convidar também e ouvi dizer: ah desculpa o carro vai estar cheio, mas faz assim, assado que você chega lá. okeys.

E ai agente vai levando a vida e pessoas legais sempre aparecem no caminho, e vamos selecionando esses com quem temos mais afinidades.

beijao

vou lá responder seu comentário no meu blog porque eu fiquei super animada, woohoo.

Angela E. M. Knaesel disse...

Oi Karla... conheço tão bem esse jeitinho alemão de ser... ao menos alguns resquícios. Não sei se sabes, mas sou do Sul e a cidade q moramos no Brasil fica ao lado de Pomerode, a cidade mais alemã do Brasil, é até engraçado, parece mesmo q estamos em alguma cidadezinha da Alemanha, a língua principal lá é o alemão. Meu sogro é de lá, e fica mesmo coladinho de Jaraguá do Sul... Frank, meu marido, falava apenas alemão até entrar na escola. Nestas cidades as pessoas se conhecem pelo sobrenome, ou melhor, perguntam primeiro o seu sobrenome pra saber a qual "linhagem" pertences.
Enfim, imagina eu, chegando nesta cidade com 16 anos (meu pai foi a trabalho) tendo sido criada em Curitiba... Oh God, sofri tanto no início, pois não era descendente de alemães ou italianos, ñ tinha um sobrenome X, ñ falava alemão, ou seja, eu era ninguém pra eles... entrar para a família do Frank foi outra novela mexicana, q prefiro nem comentar, hehe.
Claro q as proporções do que vives são mtooo maiores, ainda mais tratando-se de outro continente, mas ao ler o seu relato, não pude deixar de comparar com esta região do nosso país que mtos desconhecem. Hj creio q tudo já está diferente devido a gde quantidade de novos moradores, mas é incrível como estes resquícios da cultura européia ficaram fixados por lá.
Aq em Portugal ñ é mto diferente, ainda assim acho q ñ é tão mau qto aí...
Bjo gde e fique bem!

Anônimo disse...

Oi Karla!
Eu sou nova por aqui. Acabei de chegar vinda do blog da Débora.
Gostei bastante do seu blog.
Nesse post vivi algumas semelhanças. Entendo bem o que é esse "forçar a barra" pra conseguir amigos. Que bom que vc tem bons amigos ai. Beijos