26 de nov. de 2010

Que pena, Rio!

Hoje eu acordei na verdade bem feliz por tres motivos... Primeiro porque acordei com o Stefan me avisando que estava nevando. Lá fora tava lindo, lindo! Nao cheio de neve, mas aquela camada fininha de neve já tava cobrindo o chao e os telhados das casas. Segundo porque fui passear com a Elli e foi a primeira vez na vida dela que ela viu neve e ficou l-o-u-c-a!!! Demoramos mil anos pra passear porque ela simplesmente nao conseguia se concentrar em fazer xixi, só queria ficar "caçando" neve com a boca, mordendo os flocos no ar, bem fofo. E terceiro, porque ao voltar pra casa pra tomar café, tinha um coracao em cima do meu prato e era um bilhetinho do Stefan (que a essa altura já tinha ido trabalhar) nos parabenizando pelo aniversário de namoro. Eu devo ser a namorada mais relapsa do mundo: nunca lembro de datas!

Mas na verdade o motivo que me leva a escrever esse post é a tristeza que andam as páginas de notícias brasileiras com o que anda acontecendo no Rio. E mais triste ainda é ver tanta gente inocente envolvida, ver que a guerra civil tá rolando solta, um fugindo do outro, queima de onibus, tanques de guerra...

Poxa, será possível que tem realmente que caminhar tudo dessa maneira? O Brasil é um país tao pacífico, porque? Porque?

E quem mora em Zonas que passam "longe" do acontecido ainda relata "nao, por aqui tá tudo normal!". Eu juro que eu às vezes me assusto muito com esse negócio de estar tudo normal. E nao to falando só sobre essa situacao. Mas infelizmente o brasileiro tá tao acostumado com a violencia que muitos acham "normal" ver um assalto aqui, uns tiros alí. E ainda dizem "o Brasil nao é tao perigoso como dizem, eu por exemplo, nunca fui assaltada!". Isso é normal?!

Eu quero deixar bem claro que sou totalmente contra esse negócio de viver fora do Brasil e depois meter o pau no próprio país. Eu nao suporto isso!

Mas o fato é que quando voce tem a chance de viver algo diferente disso, passa a comparar e isso nao tem como evitar. E pra isso nao se precisa morar fora do Brasil nao. Se voce mora numa cidade perigosa e muda pra um interior tranquilo, já sente obviamente a diferenca.

Eu lembro que antes de eu vir pro Brasil (apesar de eu nunca ter sido assaltada!) eu vivi duas coisas que me deixaram muito chocada. Eu fui deixar meu irmao no dentista e na volta, parei num sinal atrás de um táxi que tinha acabado de sair do estacionamento de um banco. Quando ví, vem uma moto com dois caras e comeca a atirar no táxi, no taxista, quebra o vidro do carro, tira uma maleta e sai correndo. Tudo que eu fiz foi engatar a marcha e fui com os carambas pra trás, sem ver se tinham carros ou nao. Eu tinha medo de levar um tiro. Cheguei em casa literalmente tremendo, apavorada...

Dias depois o meu tio e a família dele queriam se despedir de mim antes de vir pra Alemanha, foram no supermercado comprar pizza pra gente comer e quando eu vejo, eles chegam em estado de choque em casa. Porque? Simplesmente saindo do carro uns bandidos queriam a carteira dele e como ele tinha as sacolas na mao, ele tinha que se abaixar pra deixar as sacolas no chao pra pegar a carteira. Eles acharam que o meu tio ia regir e deram um tiro que passou de raspao no braco dele.

Agora eu pergunto: é realmente pra eu sentir orgulho por nunca ter sido assaltada?!

É lamentável sair de casa com medo, evitar falar no celular no onibus, ter seu celular roubado ainda na segunda prestacao, ter filhos que saem e ter que ficar em casa preocupado sem saber se ele vai voltar bem. Triste!

E lembro também que ano passado um dos meus maiores objetivos ao ir pro Brasil por 3 meses com o Stefan, era mostrar pra ele como o meu país era maravilhoso (e é!) e que, quem sabe.... um dia poderíamos ir morar lá.

Infelizmente nao precisou de muito tempo pra eu mesma ver nao era isso que eu queria pro meu futuro. E o Stefan também nao. Nós vimos nesses 3 meses pouca violencia, mas estávamos sempre com receio. Comprar pao a pé de noite no supermercado meio longe era perigoso, se a gente estacionava o carro na rua, tinha que entrar rápido e já travar a porta. Coisas simples que fazem a diferenca.

Aí lembro que liguei pra alguém que conhecia que morava temporariamente na Alemanha e contei que acho que nós vamos é ficar por aqui mesmo no futuro. Ela perguntou porque e eu disse que pela qualidade de vida, que eu quero que meus filhos no futuro brinquem na floresta, corram, vejam a natureza. E essa pessoa me perguntou "mas Karlinha, no seu prédio no Brasil nao tem Play pras criancas brincarem?". Deixo aqui só as reticencias..... sem comentários!

E aí, gente? O que voces pensam sobre tudo isso?

5 comentários:

a n a a r q u i a disse...

eu nunca fui contente com o brasil... desde que eu me entendo por gente que eu já dizia que ia embora. e fui. e agora vejo as coisas com ainda mais clareza. como tu disse... quando a gente "tem a chance de viver algo diferente disso, passa a comparar e isso nao tem como evitar". näo é simplesmente falar mal. é ser crítico.
eu näo sei se voltaria a viver no brasil. e exatemente por isso. em recife eu tenho receio o tempo todo. tenho q estar atenta. tenho que esconder o celular. tenho q andar pelas ruas claras. é medo. sempre. e sempre foi assim... desde antes.
é triste

Brenda Tavares disse...

Realmente é triste ver tudo que esta acontecendo no Rio, mas tb tem seu lado bom, tudo isso é consequencia da atitude da secretaria de segurança e da instalaçao das UPPs, e isso é muito bom pq percebemos que as coisas estao sendo feitas.
Achei interessante ontem os jornalistas dizendo que pela primeira vez a populaçao dos locais em c onflito estavam do lado da policia, e isso tb é um sinal de que as pessoas realmente querem a mudança.
Eu no Brasil ja fui furtada mais de uma vez, mas nunca tive medo de estar sozinha em casa como tenho aqui na Italia.
Eu nao quero a Europa para o meu futuro, mesmo com todo a organizaçao que ela possa ter. Eu quero o calor o ano todo, pessoas livres, caloras tb, amigos verdadeiros, abraços, beijos, praia, alegria, vida tranquila, sem pressa... Termino tb com pontinho pq no final das contas acho que o Brasil vale muito a pena, e nos temos muito menos anos de "civilazaçao" que a Europa.

S. W disse...

Oie Karla, é realmente muito triste tudo que estamos vendo na tv sobre o Rio de Janeiro. Eu me pergunto como as coisas chegaram a esse ponto e se existe algo a ser feito ainda. Se um dia vai ser normal andar pelas suas sem essas preocupações.

Eu sou uma das maiores defensoras do Brasil, pq eu acho que somente pessoas que se importam pode pelo menos votar corretamente e ajudar a mudar o país. É uma pena que um lugar tão lindo como o Rio, o Brasil como um todo tenha que conviver com essa violencia e criminalidade toda. Dá medo, dá uma sensação de impotencia, e dá tristeza.

Eu queria muito que o Brasil passasse uma imagem diferente dessa. Porque eu amo tanto o Brasil, eu me sinto tão brasileira...

Beijao

Ps. dá vontade de dar uns apertos na Elli só de imaginar ela brincando na neve.

Tiago Chaves disse...

Karlinha,

Não fiquei triste pelo o que está acontecendo no RJ. Ao mesmo tempo que a situação é trágica, ela é fantástica, como disse o prefeito de lá.
Seja pela proximidade da Copa ou das Olimpiadas - ou até mesmo pelo efeito que Tropa de Elite 2 causou - o que está acontecendo é algo inédito, inclusive com grande apoio da população.
De longe, acompanhando tudo pelo twitter, blogs e agencias de noticia, a impressao que tenho é que dessa vez vai ou racha, ou seja, se o RJ n for pacificado agora, n se sabe qd será.

É um momento de tensão, n para sorrir, mas para ficar com esperança, principalmente nós, cidadãos, de que o Brasil pode sim resolver um problema grave de corrupção e violência.

É o que eu acho e eu apoio o que está acontecendo.

Gabi disse...

Oi, Karla. Acabei acessando o seu blog porque vi um link no blog da Katia Bonfadini. Gostei bastante e achei o máximo saber que você estuda Antropologia Cultural. Eu sou socióloga e antropóloga, então, teremos muito o que conversar!

Bem, quando ao Rio, pela primeira vez na minha vida eu vi e "senti" um clima diferente na minha cidade naqueles dias das "batalhas" na Vila Cruzeiro e Complexo do Alemão. Eu estava viajando a trabalho e cheguei no Rio na sexta-feira, dia 26 de novembro, de ônibus, vindo do interior de MG. Da Baixada Fluminense até a Rodoviária Novo Rio não havia ninguém na Rua, parecia feriado... ou, pior que feriado! Em feriados, apesar do pouco movimento, ainda é possível ver pessoas na Rua saindo para passear, para ir à praia... no dia 26 e nos dias seguintes, não havia ninguém nas ruas. Os pontos de ônibus estavam vazios, não tinha trânsito algum. Ou seja, as pessoas estavam com medo; estavam trancadas em casa com medo. Mesmo quem mora mais distante da Penha e dos bairros no entorno do Alemão não saíram de casa! Eu nunca vi uma reação dessa entre os cariocas! E outra, nunca vi a população apoiar a ação violenta da polícia! Alguma "coisa" está mudando no Rio de Janeiro...

Abraço,
Gabriela Honorato
Meu msn se vc quiser conversar: ghonorato_49@hotmail.com